“We don’t want free money, we want fair money”: diretor executivo da Fundação Butantan defende financiamento com termos e condições competitivas para desenvolvimento de produção sustentável de vacinas

Reunião do DCVMN em São Paulo reuniu mais de 300 participantes, e teve Butantan e Fiocruz como anfitriões

Reportagem: Marcella Franco
Imagens: Divulgação

Demonstrar sustentabilidade a longo prazo e apresentar soluções criativas faz parte das ações apontadas por Saulo Simoni Nacif, diretor executivo da Fundação Butantan, como alternativas de inovação nos mecanismos de financiamento do desenvolvimento de vacinas. A definição foi feita pelo diretor em mesa sobre o impacto dos subsídios na cobertura da imunização global, durante 25ª edição do DCVMN, em São Paulo.

“Quando se fala em financiar a indústria, não queremos dinheiro grátis, queremos dinheiro justo. E queremos dinheiro justo para projetos justos”, afirmou Saulo. O DCVMN aconteceu entre os dias 16 e 18 de outubro e teve como anfitriões o Instituto Butantan e a Fiocruz. As 15 sessões do evento reuniram mais de 300 participantes para falar de temas como novas tecnologias, engajamento do setor privado, vacinas prioritárias, o impacto da inteligência artificial na cadeia de produção de imunizantes, e a influência das mudanças climáticas e da sustentabilidade ambiental neste mercado.

“É um contexto muito propício para trazermos esse evento para o Brasil, quando vivemos um momento bem fértil para novas parcerias”, disse Tiago Rocca, diretor de Parcerias Estratégicas e Novos Negócios da Fundação Butantan e vice-presidente do Conselho do DCVMN. “É ainda mais significativo que o evento aconteça em São Paulo, bem próximo da sede da nossa instituição.”

A cerimônia de abertura, na quarta-feira (16), foi conduzida pelo CEO do DCVMN, Rajinder Salim, e contou com a participação, entre outros, do presidente do DCVMN, Adrian Azhari; do diretor do Instituto Butantan, Esper Georges Kallás; do secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha e de Saulo Nacif.

 

 

“Essa reunião marca 25 anos da nossa existência. Foi uma jornada longa, e graças à tecnologia e aos investimentos nós chegamos até hoje. Isso mostra a estratégia que temos para dar apoio à saúde humana”, definiu o presidente do DCVMN, Adrian Azhari. 

Ayoade Alakija, presidente do Conselho da FIND, definiu o trabalho do DCVMN como “importantíssimo”, e pediu que ele seja expandido. “Não podemos nos render aos fabricantes do Norte, que cobram taxas exorbitantes. Precisamos colocar nossos líderes e todas as pessoas do mundo para apoiar este trabalho, precisamos estar à frente. Não somos mais as damas de honra, precisamos ser as noivas, os pioneiros”, disse. 

O segundo dia do evento, na quinta-feira (17), foi aberto com a mesa “Harmonização Regulatória e Desenvolvimento Clínico Rumo ao Acesso Oportuno de Vacinas em Países de Baixa Renda (LICs) e Países de Renda Média-Baixa (LICMs)”, presidida por Yukiko Nakatani, diretora assistente de Acesso a Medicamentos e Produtos de Saúde da Organização Mundial da Saúde, e da qual participou, entre outros nomes, Anderson Montai, especialista em Regulação e Vigilância Sanitária da Anvisa. 

No segundo painel, sobre o impacto dos subsídios na cobertura da imunização global e do qual fez parte Saulo Simoni Nacif, da Fundação Butantan, o diretor de Investimentos do IDB Invest, Juan Parodi, afirmou que o esforço para mitigar lacunas na produção de vacinas deve ser um esforço conjunto, e não de apenas um país. “Queremos garantir que os projetos sejam não só viáveis financeiramente, mas que também sejam projetos viáveis. Temos que ser mais rápidos e mais eficientes”, disse. 

 

 

Ainda na quinta, no painel que debateu a relação entre IA e a cadeira produtora de vacinas, Sanjay Singh, CEO da Gennova, disse que esta tecnologia ajuda a dar previsibilidade à operação e está presente em centenas de etapas, ajudando inclusive a detectar anomalias. “É uma ciência incrível”, definiu. 

Os impactos das mudanças climáticas, sustentabilidade ambiental e Net-Zero foram tema de painel na sexta-feira (18), último dia do evento. Jean Pierre Amorji, especialista em Tecnologia de Vacinas da UNICEF, afirmou que a produção de vacinas demanda “emissão significativa” de gases que afetam o meio ambiente, mas que os pontos críticos deste sistema já foram identificados. “Esperamos, no futuro, chegar à neutralidade de custo, de embalagem, à redução de vidro”, disse. 

Diretor de Estratégia, Parcerias e Comunicação para a Ásia da PATH, Ankur Mutreja, falou sobre Net-Zero. “O conceito é aumentar a eficiência dos processos. Essa transição precisa considerar os biocombustíveis e tudo que é necessário para fazer as fábricas funcionarem. Também estamos falando de armazenamento, que precisa ser melhorado para que esses sistemas funcionem de forma mais verde. E há o aumento da temperatura, e temos que cuidadosamente verificar o que estamos causando ao clima.” 

 

 

Gustavo Mendes, diretor de Regulatório, Controle de Qualidade e Estudos Clínicos da Fundação Butantan, participou de mesa sobre programas de treinamento e capacitação para funcionários de laboratórios públicos ou privados dos países em desenvolvimento.

“Essa é uma mão de obra extremamente qualificada. Os países, principalmente aqueles em desenvolvimento, têm uma dificuldade estrutural de formar pessoas e reter essas pessoas. Quando você tem condicionais super qualificados, eles tendem a ir para outros países em busca de oportunidades melhores de emprego. Então o DCVMN tem trabalhos e ações específicas e o meu objetivo foi falar dos desafios que a gente tem no Butantan e aqui na América Latina”, resume Mendes. 

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